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terça-feira, 17 de julho de 2012

Ophelia


Ophelia. Óleo sobre tela 70x100 cm

"Ser ou não ser; essa é toda a questão:
Se mais nobre é em mente suportar
Dardos e flechas de ultrajante sina
Ou tomar armas contra um mar de angústias
E firme, dar-lhes fim. Morrer: dormir;
Não mais; dizer que um sono porá fim
À dor do coração e aos mil embates
De que é herdeira a carne!... é um desenlace
A aspirar com fervor. Morrer, dormir;
Dormir, talvez sonhar: eis o dilema,
Pois no sono da morte quaisquer sonhos
- Ao nos livrarmos deste caos mortal -
A paz nos devem dar. Esta é a razão
De a vida longa ser calamidade,
Pois quem do mundo os males sofreria:
A injustiça, a opressão, a vã injúria,
O amor magoado, as delongas da lei,
O abuso do poder e a humilhação
Que do indigno o valoroso sofre,
Quando ele próprio a paz encontraria
Em seu punhal? Quem fardo arrastaria,
Grunhindo, suarento, em triste vida,
Senão porque o pavor do após-a-morte
- Ignota região de cujas linhas
Não se volta - a vontade nos confunde
E nos faz preferir males que temos
A buscar outros que desconhecemos?
Assim nos faz covardes a consciência,
E o natural fulgor da decisão
Sucumbe à débil luz da reflexão;
E assim projetos de vigor e urgência
Em vista disto seus cursos desviam
E perdem o nome de ação."
O solilóquio de Hamlet
(Ato III, Cena 1) 

Fruto da Terra




Fruto da Terra. Óleo sobre crepom 50x80 cm

Movo-me sobre a lodosa planície
da vida que outrora escolhera.
Vejo folhas secas,
e flores sem frutos
de formas e cores estranhas:
são todas roxas ou de um amarelo pálido
ou, ás vezes, encharcadas num vermelho
que nada tem de vivo
quando misturado ao negrume da noite.
Ouço ao longo dos imensos capinzais
o choro de uma criança morta.
Tudo em si é sepultura.
Na paisagem desolada
paciente, espero o passar dos anos.
Até um dia (um belo dia ensolarado)
traspor essa existência.
Por fim respirar
expirar...

Sheila Santos (texto escrito em 23 de julho de 2004)





Fruto da Terra (Detalhe)